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Góticas

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

DEUSA NEGRA PARTE II

O trabalho na wicca com a Deusa Negra é um trabalho que não pode ser evitado. Conforme já expusemos, trabalhar com a Deusa Negra é a única forma de entrarmos realmente no caminho
mágico. Mas por que fazemos esta afirmação?
O caminho da Wicca é, como diversos outros caminhos mágicos, um caminho de Poder Pessoal. Que não se interprete “poder pessoal “ como a intenção de submeter algo ou alguém a vc e seus desejos, ou o desejo de controlar situações ou pessoas. A expressão deve ser entendida como um caminho em que cada pessoa conhece e assume seus reais dons, libertando-se dos comportamentos inconscientes, das máscaras inúteis e dos condicionamentos familiares e sociais. Assumir seu poder pessoal significa conhecer-se
profundamente e poder agir de acordo com sua verdade interior, sua real vontade, exercendo sem embaraço todos os seus dons. Esse é o objetivo último de um caminho mágico sério – como a Wicca: o auto-conhecimento e a auto-transformação.
Conseguir essa tomada do poder pessoal, assenhorar-se dos seus dons implica uma série de mudanças profundas de comportamento em relação à média das pessoas. Alguém que trilha um caminho de poder pessoal como a Wicca não pode mais se dar ao luxo de viver de acordo com condicionamentos adquiridos, de acordo com as expectativas de outras pessoas, levado por seus medos, suas frustrações e emoções momentâneas, nem com covardia. Alguém que anda em um caminho de poder pessoal não pode ser alguém que não ousa se olhar no espelho . Para exercer o poder pessoal o wiccaniano tem que aprender a enfrentar sua imagem, buscar o que é verdadeiro, eliminar o falso e aceitar os defeitos da mesma maneira que as virtudes.
O trabalho que nos permite chegar a esse estado é o trabalho com a sombra, em nossos termos, o trabalho de conhecimento da Deusa Negra.
Como a sombra aparece nas nossas vidas? Mesmo sem saber, segundo Molly Tuby, psicóloga inglesa, encontramos nossa sombra no dia a dia da seguinte forma:
-          nos nossos sentimentos exagerados em relação aos outros ( “eu simplesmente não acredito que ele ousou fazer isso!”, “Não entendo como ela pode usar uma roupa dessas”)
- no feedback negativo que recebemos daqueles que nos servem de espelhos ( “Já é a terceira vez que vc chega tarde sem me avisar!”
- nas interações em que continuamente exercemos o mesmo efeito perturbador em pessoas diferentes ( “ Eu e o Mauro achamos que vc não está sendo honesto com a gente.”)
- Nos nossos atos impulsivos e não intencionais (“puxa, desculpe! Eu não quis dizer isso!”)
- Nas situações em que somos humilhados ( “Estou tão envergonhado com o jeito que ele me trata!)
- Na nossa raiva exagerada em relação aos erros alheios ( “Ela simplesmente não consegue fazer seu trabalho em tempo!” , “Cara, ele perdeu totalmente o controle do peso!”).
Nos momentos em que sentimentos intensos de vergonha ou raiva nos dominam, ou quando descobrimos que temos um comportamento inaceitável, é a sombra que está irrompendo de um modo inesperado. Geralmente retrocedemos de forma inédita, porque encontrar a sombra é uma experiência assustadora e que abala nossa auto-imagem. Geralmente mudamos imediatamente para um comportamento de negação , deixando de prestar atenção a comuníssimas fantasias homicidas ou suicidas, ou a embaraçosos sentimentos de inveja que nos ensinariam a cerca de nossa própria escuridão.
O reflexo de negação de nossa mente é bem descrito na poesia do psiquiatra R. D. Laing:
“O alcance do que pensamos e fazemos é limitado pelo que deixamos de notar E por deixarmos de notar que deixamos de notar, Pouco podemos fazer para mudar, Até que notemos Como o deixar de notar forma nossos pensamentos e ações.”
Em muitos caminhos mágicos a sombra é enfrentada em um período chamado “ a noite negra da alma”, um período de crises profundas, em que o magista é levado a descrer de tudo o que achava básico logo antes...
Na wicca, a sombra é conhecida como uma parcela da Deusa, a Deusa Negra.
E qual a vantagem de trabalhar a sombra, fazer o trabalho que em psicologia se chama “a integração da sombra”? Respondem C. Zweig e Jeremiah Abraham:
- chegar a uma auto-aceitação genuína, baseada no conhecimento de quem realmente somos;
-desativar as emoções negativas que irrompem inesperadamente na nossa vida cotidiana, eliminando conflitos desnecessários;
- nos sentirmos livres da culpa e da vergonha associadas aos nossos sentimentos e atos negativos;
- reconhecer as projeções que influenciam nossas opiniões sobre os outros ;
- curar nossos relacionamentos através de um auto-exame mais honesto e de uma comunicação mais direta;
- usar nossa imaginação criativa para aceitar nosso eu reprimido.
Tudo isso se dá se estabelecermos com a sombra não uma relação de medo e repulsa, mas uma de acolhimento e aceitação. Foi um xamã com que trabalhei em técnicas de cura que, ao me ver querer extrair à força determinada forma de energia da aura de uma pessoa, se aproximou de mim, segurou minhas mãos e disse :”A única coisa que toda doença quer é ser amada”... E ao vibrar amor sobre o local onde eu iria extrair a energia à força, obteve com um gesto leve o mesmo resultado... A “doença”, ao se sentir amada, permitiu a cura.... Muito agradeço a ele, que nesse simples gesto me ensinou muito sobre meus dons de cura, seu uso e a cura de mim mesma e meus aspectos sombrios.... A sombra quer, como tudo, ser amada. E se for acolhida poderá ser valiosa aliada em nossos processos de crescimento e criação e abrirá portas jamais sonhadas no universo mágico.
Acolher a sombra é evitar uma explosão, é como fornecer à panela de pressão uma válvula de segurança. Uma panela de pressão fervendo sem válvula pode ser uma bomba mortífera, com a válvula é um utensílio útil.
Que ninguém passe a acreditar, porém, que o trabalho com a Deusa Negra é simplesmente um trabalho psicológico. O trabalho mágico passa pelo trabalho psicológico, mas com ele não se confunde. Aliás, muitas vezes , se o wiccaniano estiver se sentindo desequilibrado ou achar
que não conseguirá prosseguir no trabalho coma sombra, talvez seja importante recorrer ao apoio de um psicólogo ou analista. Muitas vezes o trabalho mágico é apoiado por esse tipo de trabalho psicológico, e, de outro lado, o enriquece e acelera mil vezes.
Abordarei a Deusa Negra e seus rituais, e falarei de Hécate. A importância de conhecer a Deusa Negra reside no fato de que não existe real conhecimento da Deusa se não se conhecem suas múltiplas facetas, da mesma forma que não nos conhecemos de verdade se não conhecermos nossa sombra.
O divino feminino conhecido apenas parcialmente é aquele que persistiu nas igrejas católicas, com o culto a Maria. Maria é a Deusa, mas uma Deusa “aleijada”, ou seja, que perdeu muitos de seus atributos originários. Maria é Virgem, Mãe, Consoladora, Protetora, mas não é Anciã, nem Senhora da Magia, nem Prostituta Sagrada, nem Guerreira, nem Vingadora, nem a Ceifeira, todos estes últimos atributos das Deusas Negras.
É perfeitamente natural que as pessoas que começam a conhecer a wicca se adaptem rapidinho a uma Deusa Mãe, protetora, gentil e distribuidora de fartura e vida. Do mesmo modo, é natural que admirem e aceitem rapidamente a Donzela sedutora e portadora da alegria e das flores.
Mas quando as pessoas tem que aceitar que a Deusa não é cor-de rosa, nem é a Barbie, que ela tem várias faces muito difíceis de conhecer e enfrentar, tudo muda de figura.
Aqui mesmo na lista muitos devem lembrar de um jovem que iniciou seu caminho na wicca, leu muito, aprendeu e começou a praticar. Um dia se sentiu pronto a trabalhar com a Deusa negra e quando fez seu ritual e contatou a Senhora da Morte pela primeira vez foi assaltado por sua formação cristã, da qual ainda era escravo. Mandou então um e-mail à lista dizendo: “ A Deusa é má! Vcs cultuam o mal, uma portadora da morte”. Hehehehehehe
Bem, essa reação, apesar de ser uma das mais exageradas que já vi, é normal. Imaginem-se frente a frente com aquela clássica figura da Morte vestida com um manto de capuz negro e uma enorme foice na mão... Agora imaginem que Ela se aproxima de um ente querido seu, ou de vcs mesmos... Vcs  conseguem, antes de conhecê-la bem, olharem para Ela e a venerarem como a Deusa? Ah, mas Ela é tão a Deusa quanto a Mãe que te pega no colo, ou a linda Donzela da Primavera...E agora?
Agora a resposta é compreender o papel na Ceifeira na ordem das coisas, como a Senhora da Morte é também a Senhora dos Renascimentos. Todos nós vivemos a morte todos os dias. Imaginem quantas células do seu corpo morrem a cada dia... Imaginem quantos seres morrem perto de vc ( de microorganismos aos vegetais e animais que vc usa para se alimentar) a cada semana... A VIDA SE ALIMENTA DA MORTE. As mulheres vivem uma importante morte todos os meses: a menstruação, aquele sangue que é sagrado porque era uma vida humana em potencial, sendo o sangramento uma pequena morte.
Sem a Ceifeira a vida em nosso planeta seria impossível... Ela, a Senhora dos Ciclos, a Senhora dos Corvos, Senhora dos Ossos, Mãe do Pó, a Velha que se veste de mortalhas....
Ela vem nos convidar a olhar nossas vidas e ver o que precisa ser cortado. O que é que não nos serve mais e precisamos deixar ir. Ela nos estende o espelho negro para que possamos conhecer quem realmente somos, mesmo aquelas porções de que nos envergonhamos, aquelas que têm sentimentos que nos fazem sentir culpados, as que não confessamos nem a nós mesmos...
Encontrá-la pode ser a um só tempo triste e angustiante, para alguns insuportável e desesperador... Para estes, porém, daí em diante o caminho mágico estará irremediavelmente vedado. Só a Deusa Negra é Senhora da Magia, só Ela é capaz de abrir os portais.
Por que? Porque só ela é nossa Libertadora, só ela nos arranca as cascas do auto-engano, da
auto-ilusão, dos delírios de auto- importância, quando nos mostra nossos erros, nossa miséria, nossa pequenez humana. Mas é justamente ao nos mostrar as falhas de nossa humanidade que a Senhora Negra nos redime, porque afinal, para a Deusa, toda a sua criação é perfeita, inclusive nós. E por reconhecer nossa imperfeição, que nos faz humanos, Ela nos oferece todo o seu Poder e retomamos nosso Poder Pessoal. E repassando um ritual que recebi...

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Deusas Negras


Aquilo que não fazemos aflorar à consciência aparece em nossas vidas como destino.”
“Livre arbítrio consiste em fazer alegremente aquilo que somos obrigados a fazer.”
“Todo homem tem uma sombra e, quanto menos ela se incorporar à sua vida consciente mais escura e densa ela será. De todo modo, ela forma uma trava inconsciente que frustra nossas melhores intenções.” “Por sombra quero dizer o lado “negativo “ da personalidade, a soma de todas as qualidades desagradáveis que preferimos ocultar( ...)
Uma pessoa não se torna iluminada ao imaginar formas luminosas, mas sim ao tornar consciente a escuridão. Esse último procedimento, no entanto, é desagradável, e , portanto, impopular”. “Prefiro ser íntegro a ser bom”
CARL GUSTAV JUNG
O que importa é entender porque é imprescindível trabalhar com as Deusas negras, Lillith entre elas, Hécate talvez como seu arquétipo mais representativo.
As Deusas negras, que se conectam com as luas escuras sempre tem muitos atributos: são senhoras da morte e da ressureição, trazedoras da foice que ceifa nossas vidas. Também são as senhoras da magia, uma vez que os portais da magia somente são abertos quando passamos a
conhcê-las. São senhoras dos oráculos e são tecelãs, no sentido de que transformam a vida. Aliás, o caldeirão é um atributo seu, o receptáculo da transformação.
Quando lidamos com as deusas escuras estamos tratando de uma coisa chamada SOMBRA, ou seja, tudo o que sua personalidade consciente (que chamamos de ego)rejeitou para formar o EU que se apresenta ao mundo. Mas a personalidade de cada um de nós é formada não só pelo que vem à luz, o ego, mas em grande parte pela sombra. Como em um iceberg, o ego é a pontinha fora da linha da água.
Porque é importante sabermos disso?
Porque só tendo consciência do que é nossa sombra poderemos conhecer a nós mesmos por inteiro.
Sua sombra traz dentro dela tudo o que vc rejeitou. Se vc é leal, sua sombra é desleal, se vc é honesto, sua sombra mente, se vc é ordeiro sua sombra ama a desordem... Mas a sombra tem uma riqueza potencial enorme, porque guarda qualidades que vc também não tem. Por exemplo, se vc é tímido, sua sombra é arrojada, se vc é medroso, sua sombra é valente, se vc é rígido sua sombra é flexivel e adaptável...
Por ai creio que já dá para vcs  imaginarem como o trabalho com a sombra pode ser importante e rico. Ela pode fornecer a vc qualidades que vc não tem e que podem te ajudar muito na vida. Mas há um preço a pagar. Qual seria ele?
Já entendemos que a sombra tem riquezas a nos trazer. E como se chega a elas? Qual é o preço a pagar?
Sabemos que a sombra é algo tão profundamente rejeitado por nós, quando não nos trabalhamos psicologicamente, que essas riquezas da sombra não estão facilmente disponíveis... Estão profundamente enterradas no inconsciente. E como fazê-las vir à luz?Só há um jeito: encarar sua sombra de frente.
Quando as pessoas começam a ver isso, muitas se assustam e nunca mais voltarão a um trabalho mágico, muito menos à wicca. Um traballho de auto-transformação é um trabalho serissimo. Especialmente para aqueles que creem que são “bons”, “guerreiros da luz”, “certinhos”.
Falo isso porque quanto mais uma pessoa vive essas personagens boazinhas, anjinhas, que espalham luz e bondade onde passam, maior é o abismo que separa a sombra do ego.
              Se vc é daquelas pessoas que nunca se permite uma irritação, que nunca xinga, que nunca grita e que jamais perde a paciência, se vc é uma pessoa sempre legalzinha, aguentando qualquer coisa que te façam de boca calada ou oferece a outra face, se vc é aparenta ser          sempre zen e que nada te perturba... bem , vc é um ´serio candidato a ser vítima do que se chama em psicologia uma revolta da sombra.
              Explico: vcs já viram aquele número de malabarismo nos circos em que a pessoa se equilibra em uma tabua solta sobre um cilindro? Quanto maior for a tabua, mais dificil é o equilíbrio. Quanto mais as pernas ficam proximas, mais fácil é... pois é, imagine que cada perna é ego            e sombra e entendam o exemplo... uma pessoa que dá vazão a sua sombra, que morde quando é cutucada, que xinga, briga, chuta em revolta, que não dá a outra face, que não finge que não             está zangada e odeia... essa pessoa é muito mais equilibrada do que as que fingem que nada as afeta ou que sempre passam por cima de tudo, ou pior, que se compadecem de quem as agride... hehehe
              Uma explosão da sombra pode se dar de mil maneiras, desde uma maneira         bombastica como o cara bom pai de familia e bom marido e trabalhador que um dia pega uma arma , entra numa lanchonete e fuzila todo mundo, até a pessos que não aguenta mais e um dia manda o casamento por espaço, os filhos pra marte e vai morar com os indios no xingu...
Conhecer e acatar nossa sombra - nossa porção que odeia, grita, rosna e ameaça os inimigos - é parte essencial de uma psique saudável e do trabalho mágico, porque é só aceitando ossa condição humana que seremos capazes de conhecer quem realmente somos.
Uma bruxa sabe que aceitar as manifestações da sombra é o caminho do poder pessoal e do equilíbrio e que não há atalhos que o evitem.
Emoções como ira, raiva, ódio, cobiça, gula , luxúria, preguiça, são HUMANAS. Nenhum de nós escapa delas, e o resto é só fingimento.
Coloquei de propósito palavras que lembram, os 7 pecados capitais dos cristãos. O que nos faz ter tanta dificuldade com o trabalho com a sombra é justamente o arquetipo cristão: ser sempre bom, só fazer o bem, nunca agredir ninguém, nunca se irar....A doutrina cristã é a escravidão da doutrina da CULPA. E as sombras que se alimentam desse sentimento chamado CULPA são sempre
monstruosas...
CULPA, essa coisa que tantos de nós cultivam de forma tão cuidadosa! Quantas vezes nos sentimos culpados por mil coisas, ficamos inventando maneiras de “expiar essa culpa”, “pagar nossos pecados”...Quantas vezes carregamos as culpas do mundo, de nossos pais, nossos politicos, por exemplo? Cacete! Como ao inves de alguem ficar revoltado com o corrupto do Pitta, por exemplo, alguém ainda diz “ah, mas a culpa é nossa de termos votado nele! ele não tem
culpa!”. Porra! Chega de bobeiras... A culpa só é util se nos ensina alguma coisa, por exemplo a não votar mais no Pitta heheheheh. Afora isso, o que se ganha com ela????
Vejamos outros sentimentos negativos em comparação. Por exemplo a dor da perda. Quando vc se depara com uma perda, morre uma pessoa querida, um relacionamento, um projeto, vc fica triste e deprimido. Vc fica de luto. O luto tem uma função: deixar vc lamentar o que perdeu e ao mesmo tempo te mostrar que aquilo acabou. Por um ponto final para que aquilo não te atormente o resto da vida. Por isso, por exemplo, as pessoas que tem parentes que desaparecem e estão obviamente mortos, mas nunca se encontrou o corpo, ficam anos a fio presas à perda, porque não conseguiram viver o luto a que tinham direito. Pois é , então depressão  e tristeza em relação à
perda são emoções dificeis de serem vividas, mas são positivas, elas tem uma função na psique, elas preparam uma nova fase da vida. E a culpa? A culpa não traz riqueza alguma. Só se interessa pela culpa quem quer manipular outra pessoa. A culpa é o grande coringa que permite todos os tipos de manipulação psicológica e relações doentias, de medo e submissão, de amor dependente. “ Vc não pode fazer isso se me ama...” , “ ai, filhinha se vc for viajar com seu namorado eu vou ter um ataque cardiaco e a culpa é sua...” “Ah, vc não pode viver sua vida porque seus pais te amam e precisam de vc.” “Se eu sou uma pessoa espiritualizada jamais vou me alterar, senão vou trazer
consequencias terriveis para mim e os que me cercam...”, “ah, se eu tivesse feito isso, ah se eu não tivesse feito aquilo...” Culpa é escravidão. Ninguém é senhor de si enquanto vive com culpas.
Não existe trabalho mágico real se estamos presos à culpa e não enfrentamos a sombra. E foi sobre esse sentimento inutil em termos de ganho da psique  que se ergueu a sociedade ocidental sob a égide do cristianismo. E o que tem tudo isso a ver com a Deusa Negra? É justamente o
arquétipo da Deusa Negra que vem nos trazer a abençoada libertação dos padrões de pensamento e comportamento baseados na culpa dos cristãos.
Sehkmet dos egípcios, a Deusa com cabeça de Leão, é um bom exemplo para falarmos desse tema. Ela personifica o poder do sol, mas o poder destruidor do sol. No Egito o Sol tanto trazia a vida para as colheitas quanto trazia a seca mortal e a peste que vinha do deserto. Diz a sua história que seu pai o Deus Sol estava descontente com os homens e resolveu castigá-los. Soltou sua filha em fúria e ela foi matando pessoas. A um certo ponto da matança, Geb resolveu interromper o castigo, que já achava suficiente. Mas o ódio de Sehkmet não era facilmente controlável, ela continuou matando sem parar, embrigada pelo sangue. O jeito com que foi parada é que o Deus espalhou va´rios jarros de cerveja pintada de vermelho pelos templos do país. Ela se embriagou, dormiu e sua ira assim diminuiu. Outra Deusa que nos traz esse conteudo de revolta é Pele, a Deusa havaiana dos vulcões. Ela amava um Deus e o desposou. Mas sua irmã, a Deusa do mar o tirou dela, traindo-a. Pele em fúria fez suas lavas brigarem muto tempo com o mar e  do seu ódio foi criado o Havai ( que realmente é só lava vulcânica). Por que citar essas Deusas? Para exemplificar como se trabalha com deusas negras. Por exemplo: medite com Elas:  o que me revolta? o que me enfurece? quem me traiu? quem me abandonou? o que é capaz de me fazer destruir alguma coisa ou alguém? o que aplaca minha raiva? como meu ódio pode ser criador?
São as riquezas dessas respostas que a Deusa Negra tem para nos trazer. É claro que o tema é muito mais amplo. Só quero dar uma pincelada sobre ele. O e-mail seguinte falará de Hécate e Lillith.
A Deusa negra nos traz muitas qualidades da sombra. Falemos agora da famosa Lillith, conhecida como a Lua Negra.
Quem é Lilith? Lillith é uma Deusa venerada na Mesopotâmia, onde havia culturas religiosas fortemente baseadas em uma prática que se convencionu chamar “prostituição sagrada”. Coloco o termo entre aspas porque sempre que vemos a palavra prostituição soa em nossas mentes o alarma do conteúdo negativo que a sociedade patriarcal deu ao termo.
E o que eram essas culturas? No grande templo de Innana havia o culto a Ela como grande Mãe, depois Deusa do amor. AS sacerdotisas praticavam sexo ritual com homens escolhidos para que a nação tivesse as bençãos do Grande Rito: fertilidade, vida, prosperidade, boas
colheitas...o coração da nação era esse templo. centenas de homens eram para lá convidados todos os dias. Hoje muitos que escrevem sobre o tema, imbuidos de uma concepção machista, tentam minimizar a importância da sacerdotisas que exerciam esse papel. A verdade é que
eram muito consideradas e tinham influencia política e econômica imensa, influido diretamente na escolha dos governantes.
A porção donzela de Innana era a Deusa Lillith, e eram chamadas de Lilliths as sacerdotisas mais jovens que saiam às ruas para buscar os homens escolhidos para as práticas rituais sexuais naquele dia. Lillith era “ a mão da Deusa” que ia buscar os homens e trazê-los aos
templos. por isso ela também é chamda de a Donzela Negra.
Imaginem o choque cultural que houve quando os judeus chegaram a essa nação. Para os judeus, sexo´era um mal necessa´rio para a procriação. A mulher, uma coisa imunda e impura quando menstruiava- ai que nojo! hehehhee -, alias, menos que um objeto. Podia ser apedrejada até a morte só por ter ousado falar mais alto, já que o marido era seu dono
e senhor... Imaginem o que sentiram os patriarcais judeus em uma sociedade ( eles chegaram à Babilonia como escravos)onde as mulheres eram respeitadissimas e as sumas sacerdotisas transavam com muitos homens e eram respeitadas por isso!!!!
Não é dificil perceber porque Lillith acabou sendo para os judeus uma “demônia” ou a “mãe de todos os demônios”... heheheheh È a famosa sombra... O que se teme - no caso a liberdade sexual da mulher, o que nos ameaça - uma mulher independente do homem- é obviamente
ameaçador e deve ser “demonizado”, ou seja, deve ser execrado, desprezado, amaldiçoado, rotulado como o “mal”...
Quando hoje uma cabalista , por exemplo ( doutrina essencialmente judaica) diz a uma aluna minha que “jamais invocaria um demônio como Lillith”, o que ela expressa é esse profundo preconceito e imbecilidade judaica que os cristãos tomaram emprestado.
Lillith é uma Deusa Negra que nos traz a incomparável riqueza de discutir nossa sombra em relação à sexualidade. Todo mundo sabe como a maior parte das pessoas tem medo e dificuldade até de falar sobre sexo... Quanto mais de questionar seus medos, preferências e
praticas...assim se compreende facilmente as fantasias e o medo de Lillith.
Bem, imaginem como a vivência do arquéitpo de Lillith pode beneficiar nossa sociedade. Todos, homens e mulheres, por ela, podem discutir suas vidas sexuais,seus relacionamentos, suas amarras, seus medos, seus dilemas. Ela traz a redenção da culpa sexual, que nos torna
presa fácil dos preconceitos, das vidas sempre insatisfeitas, do controle de muitos...
Ela pode libertar o homem e a mulher da opressão sexual, ela pode nos ajudar a viver em um mundo de mais equilíbrio, onde um não tema o poder do outro. Tudo isso é o trabalho da Deusa Negra em nós.
Como preciso sair agora não falarei já sobre Hécate, mas hoje mesmo tornarei a escrever sobre ela.
Continuando o assunto, explico melhor o que é sombra e por que trabalhar com ela.

CONHECENDO A SOMBRA

“Aquilo que não fazemos aflorar à consciência aparece em nossas vidas como destino.”
“Livre arbítrio consiste em fazer alegremente aquilo que somos obrigados a fazer.”
“Todo homem tem uma sombra e, quanto menos ela se incorporar à sua vida consciente mais escura e densa ela será. De todo modo, ela forma uma trava inconsciente que frustra nossas melhores intenções.”
“Por sombra quero dizer o lado “negativo “ da personalidade, a soma de todas as qualidades desagradáveis que preferimos ocultar( ...) Uma pessoa não se torna iluminada ao imaginar formas luminosas, mas sim ao tornar consciente a escuridão. Esse último procedimento, no
entanto, é desagradável, e , portanto, impopular”.
“Prefiro ser íntegro a ser bom”